domingo, 16 de setembro de 2012

Sete Minutos - E Agora, José?

Hoje, repassei em casa o texto da peça "Sete Minutos" para tentar memorizá-lo e posso dizer que já rolou com maior fluidez. Já estou conseguindo internalizar as intenções das personagem nas cenas em que atuo e sinto que houve uma pequena melhora se compararmos ao meu primeiro contato com o texto. Uhuuu!

Com relação ao corpo da personagem e suas reações, fiz um ensaio em frente ao espelho sem nenhum assessório. Sei lá... ficou meio sem sal. Tentei então fazer a mesma cena vestindo um paletó e senti uma pequena melhora na postura e impostação da voz. Senti-me como se estivesse vestido de José... Acho que vou levar o paletó para o ensaio na aula de montagem, pois pareceu-me promissor seu uso... 

Como batizei a personagem com o nome de José, lembrei-me do primoroso poema de Carlos Drummond de Andrade o qual transcrevo aqui... Confesso que tenho buscado inspiração nele na criação de minha  personagem... Um Grande Agraço e até a próxima postagem!


JOSÉ (Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?




Nenhum comentário: