Arte é feita de emoção e poder participar de momentos marcantes na vida das pessoas com ela é para o artista uma grande satisfação.
Ontem aventurei-me na musicalização de uma cerimônia de casamento a convite do amigo Tico Imbriani e tocamos a marcha nupcial com violão e guitarra. Muita adrenalina!
Pudemos também conhecer e apreciar o trabalho do pianista e colega sr. Ovidio. Nota mil!!!
Lembrei-me do trecho final da peça "Sete Minutos" cujo bonito conteúdo transcrevo abaixo:
¹...Era uma autobiografia da Marta Graham, aquela bailarina moderna. Sabe, é que eu não sou muito de ler. Não tenho saco. Você vive me enchendo por causa disso, mas esse aí eu li inteirinho. Não lembro muito bem do livro todo, mas teve uma estória nele que nunca esqueci. Tinha uma dança lá, uma coreografia que a Marta gostava muito de fazer, chamava... “Angústia”, uma coisa assim. Era um solo, ela dançava dentro de um saco branco só com a cabeça de fora. O saco fechado no pescoço e o limito do saco eram os braços e as pernas esticados. Tinha uma porrada de fotos no livro, super maneiro. Ela ficava lá presa dentro daquele saco branco, só rosto angustiado de fora. Durante anos em todos os espetáculos ela dava um jeito de encaixar essa coreografia. Era o carro chefe dela, como se diz né? Até que um dia a Marta estava no camarim tirando a maquiagem quando o pessoal da produção veio avisar que eles estavam com um problema. Tinha uma mulher da plateia, o público todo já tinha ido embora e ela estava lá, chorando copiosamente. Enfim, ninguém sabia o que fazer. A Marta pediu que trouxesse a mulher para o camarim. Ela veio e não conseguia parar de chorar. Água com açúcar, abano, todo mundo no maior sufoco, até que...? Meia hora depois ela se acalmou. A Marta ali toda solista: “o que é que aconteceu?” E ela contou. “Eu tinha vinte e cinco anos, quando um filho meu de três anos de idade brincava com a bola na calçada. A bola correu para o meio da rua, ele correu atrás para pegar. Eu vi a roda de um caminhão passar por cima da cabeça dele. Eu não chorei naquele dia, eu não chorei no enterro também. Nos últimos vinte e cinco anos eu não fui capaz de chorar por nada nesse mundo. Até ver a sua dança e entender essa angústia monstruosa que me apertou o peito durante todo esse tempo, que me deixou sem ar, sem remédio, sem saída. Todo mundo lá no camarim ficou em silêncio. A mulher levantou os olhos e disse: ‘Obrigada’. Saiu chorando silenciosamente. A Marta escreveu no livro dela que valeu a pena ter vivido por esse momento. Por ter tido o privilégio de saber que pelo menos uma vez na vida ela foi capaz de tocar uma pessoa sensível na plateia”.A arte nos proporciona a troca, o toque, o afeto... Mais uma experiência valiosíssima! Pura emoção :-)!
Um grande abraço a todos!
¹Extraído da peça Sete Minutos de Antônio Fagundes
Nenhum comentário:
Postar um comentário