Já era hora de recolher-se. Aquele menino de olhos tristes punha-se a deitar naquela noite quente do sertão. O sono não vinha.
Pedira benção ao pai minutos atrás. Observava com uma ponta de inveja os três irmãos que dormiam com serenidade nas redes ao lado.
Lembrou-se mãe. Quantos anos se faziam desde sua morte? Sentiu um aperto no peito pouco comum em crianças de sete anos de idade. - "quatro anos..." murmorou baixinho.
Era o terceiro filho de um alfaiate viúvo em uma cidadezinha do interior. Sentia a ausência da mãe, mas não tinha nenhuma revolta pela vida difícil que tivera desde então. O pai, trabalhador porém ausente, educava os filhos a "curtas rédeas" e os castiva fisicamente por cada peraltice.
O menino chorou em silêncio. As lágrimas quentes pareciam não aliviar dor daquela falta. Não era saudade somente de sua genitora, mas também da memória de sua imagem. Como teria sido seu rosto? Sua voz?... Como o chamaria?
Juntou as mãos pequeninas e pôs-se a rezar. Pedia em prece para conhecer a mãe... Não tinha lembrança do que era tê-la por perto... Como teria sido seu rosto? Sua voz?... Como a chamaria?
Cobriu a cabeça e adormeceu.
Acordou disposto na manhã seguinte, mas aquela ausência se fez sentida novamente... Não havia pão, leite ou beijo de bom dia... Era junho de 1950.
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